terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Cinema - Relatos Selvagens

De: Damián Szifron. Com Ricardo Darin, Oscar Martinez e Leonardo Sbaraglia. Comédia dramática, Argentina, 2014, 122 minutos.

Candidato praticamente certo a estar entre os cinco finalistas da categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira do Oscar - os indicados serão conhecidos na próxima quinta-feira (15/01) - o filme Relatos Selvagens (Relatos Salvages), pequena obra-prima em seis episódios do diretor Damián Szifron, surge nas salas brasileiras nesse final/início de ano para confirmar aquilo que muitos cinéfilos talvez até saibam, mas custem a admitir: a Argentina, atualmente, faz os melhores filmes da América do Sul. É só puxar pela memória: O Filho da Noiva, Nove Rainhas, O Abraço Partido, Leonera, Medianeras, Clube da Lua, O Pântano, XXY, O Homem ao Lado... são tantas as boas películas que daria para escrever um parágrafo inteiro apenas com elas.
E os nossos hermanos não apenas produzem bons filmes, como sabem vendê-los muito bem para o mercado estrangeiro. Sabendo do bom trânsito do diretor Juan José Campanella por Hollywood - muito por conta do seu trabalho na direção de séries como Law & Order, 30 Rock e House - encaminhou ao Oscar de 2010 o belo O Segredo de Seus Olhos, que tinha Campanella no comando. O resultado? Pra quem não lembra, a película argentina faturou a estatueta daquele ano, superando grandes produções como o francês O Profeta, de Jacques Audiard e o favoritaço da noite A Fita Branca, outra obra-prima moderna, esta dirigida por Michael Haneke. O Oscar não é muito famoso por zebras, mas, nesse caso, pode-se até dizer que ela passou pelo tapete vermelho. Mas uma zebra calculada, talvez.


Relatos Selvagens mantém a tradição recente de bons filmes do nosso país vizinho. A obra é uma espécie de coletânea de curtas, onde são escancarados boa parte dos problemas da sociedade moderna, estando entre eles, a intolerância entre os humanos, a burocracia governamental, a falência de instituições consagradas como o casamento, o individualismo, a impaciência, os julgamentos ao outro, o desejo de vingança... Enfim, um painel organizado no formato de pequenas peças que nos fazem refletir sobre nossas ações e que consequências elas poderão ter agora, mais adiante ou daqui há muitos anos. Seja ela terminar com o namorado(a) ou xingar um sujeito no trânsito por que (talvez) ele tenha te fechado.
É um filme que faz rir, mas não a risada gostosa de se estar assistindo a algum filme dos Irmãos Farrelly - ou do Chaplin, se for de sua preferência - mas é a risada de nervoso, de estranhamento, de curiosidade. Quase como estar assistindo a um filme dos Irmãos Coen feito na América do Sul. Sobre os argumentos de cada um dos episódios, acho válido para quem ainda não tenha visto - e corram, porque é só até amanhã, no shopping! - ir para o cinema sem saber de nada. É provável que o sabor dessa pérola cinematográfica seja ainda mais gostoso. Se vai ganhar o Oscar ou não, ainda não temos como saber - o favorito parece ser o polonês Ida. E o importante é estar na jogada. A nós, brasileiros,  resta nos perguntar como seria se tivéssemos enviado O Lobo Atrás da Porta. Enfim, é só um palpite deste jornalista e cinéfilo que vos escreve.

Nota: 9,6

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